Dicas

Transporte de animais

O chamado do berrante, a fim de reunir o gado em comitiva, ainda ecoa por alguns campos brasileiros. Hoje, porém, a convocação mais comum é o ronco do caminhão, meio de transporte utilizado pela maioria dos produtores para levar esses animais de uma fazenda a outra ou ao frigorífico. Independentemente da distância, a preparação é uma das principais medidas para assegurar uma viagem tranquila, sem prejudicar o animal.

Há uma série de cuidados que devem ser observados no transporte de gado. Segundo o pesquisador Ezequiel Rodrigues do Valle, da Embrapa Gado de Corte, o processo deve seguir três fases diferentes. A primeira delas é o manejo pré-abate, quando o gado ainda está na fazenda. Ao recolher os animais para efetuar a pesagem, deve-se evitar o uso de recursos que possam estressar o animal, como choque elétrico ou aguilhão. O ideal é fazer essa movimentação no dia anterior ao embarque, para que eles possam descansar.

Segundo o pesquisador, geralmente são agrupadas de 20 a 22 cabeças de gado, enquanto carretas maiores comportam cerca de 40. Animais estranhos (que nunca conviveram) são mantidos separados. Quando há animais com chip, eles também ficam em lotes diferentes dos que não tiveram a tecnologia implantada. As especificações do transporte, incluindo o número de cabeças, devem constar na Guia de Transporte Animal (GTA), que é a permissão para o deslocamento. Cada viagem precisa de uma nova GTA que autorize a operação. Conforme informações do Ministério da Agricultura, a guia é emitida pelos serviços veterinários estaduais e leva em consideração os aspectos sanitários do local de origem e de destino.

A segunda fase é o embarque, que deve ser feito com tranquilidade. “O embarcadouro tem que ser todo fechado nas laterais, e o último lance deve terminar no mesmo nível do caminhão para evitar que o animal pule”, detalha Valle. Ao menor descuido, informa o pesquisador, o gado pode se machucar e, dependendo da quantidade de hematomas, isso pode desvalorizar a carne e o couro. Em alguns casos, quando o animal é pisoteado ou sofre grande estresse, ele pode ser desqualificado, e o pecuarista corre o risco de não receber. “O certo é que o frigorífico cobre da transportadora, mas pode ser abatido do valor sem que o produtor perceba. Por isso, é recomendado que produtor assista ao abate”, aconselha Valle. As recomendações também valem para o momento do desembarque.

Valle aponta outros três fatores que interferem na logística do gado. O primeiro deles é a qualidade do caminhão. “A carroceria deve ser bem adaptada, sem ponta de prego, parafusos ou lascas de madeira que possam causar lesões”, diz. O piso deve ser antiderrapante, para que não haja risco de os animais escorregarem durante o transporte. O segundo fator é a preparação do motorista. O pesquisador orienta que a viagem seja iniciada somente 15 minutos depois da finalização do embarque, para que o gado esteja acomodado no caminhão. Por fim, o terceiro fator também envolve um pouco de experiência do condutor, uma vez que as estradas nem sempre estão em boas condições. “O caminhão vai chacoalhando, então, se o motorista não tiver cuidado, machuca a carcaça”, explica Valle.

As viagens costumam ser feitas num raio de 250 a 300 quilômetros, estima Valle. Assim, o gado é embarcado e chega ao destino no mesmo dia. Mas alguns transportes podem ser feitos entre distâncias maiores. Nesse caso, o melhor é parar a cada duas horas para checar os animais e dar água e comida. Além disso, o pesquisador orienta a seguir viagem nos horários menos quentes do dia. Há ainda uma parcela de gado que é exportada em navios, principalmente para Venezuela e Líbano. No Brasil, o Pará é estado líder nessa atividade, mas há quem questione o baixo valor agregado que a exportação de gado em pé gera. Segundo Valle, a única diferença da logística é que, ao desembarcar do caminhão, o gado é encaminhado para um navio adaptado e segue ao destino.

 

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