Saiu na Imprensa

“Quando pisava, o freio do ônibus não respondia”

José Aparecido Alves, motorista do ligeirinho que causou acidente na Praça Tiradentes

Com os olhos marejados, cabeça para baixo e usando um boné em uma clara tentativa de esconder o rosto, o motorista José Aparecido Alves, 49 anos, falou pela primeira vez à reportagem da Gazeta do Povo sobre o acidente com o ligeirinho Colombo/CIC na Praça Tiradentes, no último dia 10. Em entrevista na tarde de sexta-feira, o motorista se ateve a falar sobre a tragédia e alega não ter conseguido frear. Ele evitou comentar sua prisão, na noite do acidente, e afirmou apostar na perícia como forma de comprovar sua versão dos fatos.

Alves negou ter escolhido a loja das Pernambucanas como alvo da batida, para evitar atingir mais pessoas no ponto de ônibus ao lado. A informação foi passada para a imprensa no dia seguinte ao acidente, pelo presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana, Denilson Pires. “Eu tentei desviar de tudo”, disse o motorista do ligeirinho.

Considerada uma das mais graves da história do transporte coletivo curitibano, a tragédia deixou dois mortos e 32 feridos. Apesar de não se considerar responsável, Alves pediu desculpas aos feridos e à família dos mortos, negou ter sofrido um mal súbito e indicou a impossibilidade de frear como causa do acidente. O ônibus destruído está no pátio do Detran, sob análise da área de Engenharia Legal e Trânsito Legal do Instituto de Crimi­nalística. O laudo sobre as causas do acidente deverá ser divulgado em três semanas.

Em um dia, a vida de Alves passou por um turbilhão. Além do acidente, ele foi internado no hospital e saiu de lá direto para a cadeia, preso em flagrante pela Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran). Na última semana, permaneceu isolado em uma chácara localizada em Araucária, na região metropolitana de Curitiba. Alves conta com o apoio de psicólogos e psicanalistas para lidar com o trauma, que segue vivo em sua memória e atormenta seu sono. Confira as principais declarações do motoristas:

Acidente

“Peguei o ônibus naquele local mesmo (na Praça Tiradentes). Puxei o estacionário e acelerei. Em seguida, tinha um ligeirinho na frente e, assim que desviei, o carro fez um barulho, como se tivesse quebrado uma peça. Aí o carro aumentou muito de velocidade. Eu disse ‘Meu Deus, não consigo parar esse ônibus. Eu tento parar e não consigo parar’. Em seguida, eu fiz a curva para a direita e subi em cima da calçada. Eu vi um táxi, desviei do táxi, pisando no freio. Naquele mo­­mento, fiz de tudo para avisar as pessoas que estavam dentro do veículo que ia bater. E o ônibus lá, aumentando a velocidade, com o giro lá em cima, sempre aumentando a velocidade. Quando cheguei na esquina, o carro estava saindo, eu ainda tentei desviar dele e daí em diante não vi mais nada.”

Freio x velocidade

“Não sei se o ônibus não estava freando ou se o giro do motor era mais forte. Quando pisava, ele não respondia.”

Mal súbito

“Não tive problema de saúde nenhum. Eu estava bem.”

Falha mecânica

“Ao que tudo indica, sim (houve falha mecânica). Mas tem que esperar a perícia para ver a conclusão correta do que aconteceu.”

Após o acidente

“Eu fiquei bastante atordoado. Não lembro claramente do que aconteceu depois. Não lembro nem de quando bati no veículo. Esse é o primeiro acidente desse tamanho que eu sofro.”

Vítimas

“Eu lamento muito a situação. É o que eu comentei com as pessoas: jamais tentei fazer aquilo, nunca desejo isso para ninguém e jamais fiz isso de propósito. Peço desculpas a todos se foi uma falha minha.”

Futuro como motorista

“Ainda tenho que pensar. Não sei o que fazer”.

Vítimas – Um dos 32 feridos segue internado

Uma das 32 pessoas feridas continua internada dez dias depois do acidente com o ligeirinho. Maria Inês Marcondes, 42 anos, fraturou as duas pernas e está no Hospital Cajuru, onde se recupera de uma cirurgia. Seu estado é estável e ela pode receber alta nesta semana. Claudete Pimentel Silveira, 30 anos, que machucou duas vértebras da coluna cervical e recebeu tratamento no Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, teve alta na sexta-feira. Na última quinta-feira, um exame de ressonância magnética descartou a necessidade de cirurgia.

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